Tudo muito delicado
Uma cristaleira cheia de copos, vasos, ampolas. Uma vida de cristais, um coração cristalizado, uma raiva que não passa. Desafio. Desafio de ser. O mundo é sustentado por uma aranha, uma grande aranha mãe (arrepios).
Um mergulho para fora.
A experiência do vazio preenchida por arte.
Até o dia 13 de novembro no MAM (Museu de Arte Moderna) - Rio de Janeiro, a artista nascida da França em 1911, falecida em Nova Iorque ano passado, aos 98 anos, pode ser vista e sentida.
Louise Bourgeois é sua obra e sua obra é sua biografia. Não há como separar, como diferenciar. Quando pequena, o pai de Louise teve um caso com sua babá. A meninas que se tornou uma das mais importantes artistas do seu tempo, nunca mais se recuperou.
A figura do pai é constante. É esculpida em tecido e chumbo, é uma prótese encaixada, é dilacerado e esquartejado.
Sexo como instinto agressivo, selvagem. A mulher como criadora do caos. Membros com suas rugosidades absurdas e verdadeiramente assustadoras espelhadas por um ambiente quase opressor. Não, não é opressor. É a angústia do vazio, o desespero da solidão, o medo do escuro. Escuro que ambienta a exposição e surpreende as relações com a obra. Estamos no labirinto de Louise. Conhecendo seu interior exposto e aberto. Mas como todo labirinto, difícil encontrar a saída. Queremos mesmo sair? Envolvidos por corpos entrelaçados em um belo horror sexual. O parto dilacerante da arte. E de repente outra porta, uma saída? Então chegamos ao centro da artista. Uma sala não muito escura, mas sombria. O Desafio da fragilidade da cristaleira familiar. O reflexo das angústias humanas, nas linhas da menina-mulher Bourgeois. E A Aranha. (mais arrepios) A estrutura de oito pernas, engloba a vista e o corpo do espectador. No centro da gaiola na qual tece sua teia, uma prisão de relicários, uma cadeira vazia, pedaços familiares...vazio, dilacerado e vazio.
"I am afraid (2009)
I am afraid of silence
I am afraid of the dark
I am afraid to fall down
I am afraid of insomnia
I am afraid of emptiness
I am afraid of the dark
I am afraid to fall down
I am afraid of insomnia
I am afraid of emptiness
Is something missing? Yes, something is missing and always will be missing.
The experience of emptiness
To miss
What are you missing?
Nothing
I am perfect but I am lacking nothing
Maybe something is missing but I do not know and therefore do not suffer
The experience of emptiness
To miss
What are you missing?
Nothing
I am perfect but I am lacking nothing
Maybe something is missing but I do not know and therefore do not suffer
Empty stomach empty house empty bottle
The falling into a vacuum signals the abandonment of the mother"
O contraste com o aterro do Flamengo em um lindo dia de sol impressiona tanto quanto a aranha de bronze enorme que está disposta na frente do museu. A visita é intrigante e avassaladora. Não há foto que consiga transmitir as sensações que cada obra, cada frase, cada ambiente provoca.
A arte de Louise não é terapia, não é escapismo, nem necessidade.
Arte é a garantia de sanidade.
#imperdível
Mais informações: MAM
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