Bakanices

29 outubro, 2011

Desejo de vazio

Tudo muito frágil
Tudo muito delicado
Uma cristaleira cheia de copos, vasos, ampolas. Uma vida de cristais, um coração cristalizado, uma raiva que não passa. Desafio. Desafio de ser. O mundo é sustentado por uma aranha, uma grande aranha mãe (arrepios).
Um mergulho para fora.
A experiência do vazio preenchida por arte.
Até o dia 13 de novembro no MAM (Museu de Arte Moderna) - Rio de Janeiro, a artista nascida da França em 1911, falecida em Nova Iorque ano passado, aos 98 anos, pode ser vista e sentida.
Louise Bourgeois é sua obra e sua obra é sua biografia. Não há como separar, como diferenciar. Quando pequena, o pai de Louise teve um caso com sua babá. A meninas que se tornou uma das mais importantes artistas do seu tempo, nunca mais se recuperou.
A figura do pai é constante. É esculpida em tecido e chumbo, é uma prótese encaixada, é dilacerado e esquartejado.
Sexo como instinto agressivo, selvagem. A mulher como criadora do caos. Membros com suas rugosidades absurdas e verdadeiramente assustadoras espelhadas por um ambiente quase opressor. Não, não é opressor. É a angústia do vazio, o desespero da solidão, o medo do escuro. Escuro que ambienta a exposição e surpreende as relações com a obra. Estamos no labirinto de Louise. Conhecendo seu interior exposto e aberto. Mas como todo labirinto, difícil encontrar a saída. Queremos mesmo sair? Envolvidos por corpos entrelaçados em um belo horror sexual. O parto dilacerante da arte. E de repente outra porta, uma saída? Então chegamos ao centro da artista. Uma sala não muito escura, mas sombria. O Desafio da fragilidade da cristaleira familiar. O reflexo das angústias humanas, nas linhas da menina-mulher Bourgeois. E A Aranha. (mais arrepios) A estrutura de oito pernas, engloba a vista e o corpo do espectador. No centro da gaiola na qual tece sua teia, uma prisão de relicários, uma cadeira vazia, pedaços familiares...vazio, dilacerado e vazio.

"I am afraid (2009)
I am afraid of silence
I am afraid of the dark
I am afraid to fall down
I am afraid of insomnia
I am afraid of emptiness

Is something missing? Yes, something is missing and always will be missing.
The experience of emptiness
To miss
What are you missing?
Nothing
I am perfect but I am lacking nothing
Maybe something is missing but I do not know and therefore do not suffer
Empty stomach empty house empty bottle


The falling into a vacuum signals the abandonment of the mother"


O contraste com o aterro do Flamengo em um lindo dia de sol impressiona tanto quanto a aranha de bronze enorme que está disposta na frente do museu. A visita é intrigante e avassaladora. Não há foto que consiga transmitir as sensações que cada obra, cada frase, cada ambiente provoca.
A arte de Louise não é terapia, não é escapismo, nem necessidade.

Arte é a garantia de sanidade.





                                                                                                                          #imperdível

Mais informações: MAM

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